A garota do espelho

Às vezes eu costumo pensar que eu seria uma excelente irmã, pena que sou filha única. 

Fico imaginando como seria minha vida se tivesse tido irmãos. Claro que a gente imagina irmãos legais e parceiros e não aqueles que incomodam. 

Uma vez, nas minhas histórias imaginativas, criei uma família em que eu tinha dois irmãos mais velhos e uma irmã mais nova.

O Fabio, mais velho de todos, era CEO de uma empresa e o irmão com quem eu menos me identificava, o Thiago, segundo irmão era ator famoso e minha irmã mais nova, Leticia, era médica. 

Nos meus sonhos sou sempre irmã dedicada, tia dedicada, madrinha dedicada.

Quando eu era adolescente e me sentia sozinha, eu tinha mania engraçada de entrar no meu quarto, ligar a música da vitrola bem alta, cantar e dançar na frente do espelho e isso me dava a sensação de que eu não estava sozinha, que lá havia muitas pessoas me vendo como eu me via através do espelho.

Eu sorria, eu me sentia feliz, eu não me sentia só.

Hoje eu acho que tenho um talento, talvez não tenha, mas acho que sim. Eu consigo ler as pessoas e gosto de tentar entender a mente humana e sinto prazer em ajudar e me aproximar, contudo quanto mais tento fazer isso mais tenho a impressão de que as pessoas não se importam, mais elas querem te tornar invisível, mais elas querem te ferir por suas fraquezas, seus traumas e suas culpas.

Às vezes eu sinto vontade de voltar pra frente daquele espelho e sentir que as pessoas estão me vendo e sorrindo pra mim. Tenho vontade de sentir que não me julgam, que elas abrem seu coração pro meu. Vou ainda além e tento imaginar que elas sabem que eu não sou popular, não sou quem vai dizer só o que elas querem ouvir, mas que eu seria uma ótima escolha pra ser a melhor amiga, a irmã, a confidente, a tia carinhosa dos filhos, a companhia perfeita.

Aí volto à realidade e vejo que sou somente a garota daquele espelho, apenas uma garota invisível.