Perdemos o direito de reclamar.

Vivo uma vida considerada bastante privilegiada, logo, a maioria das pessoas fica horrorizada quando reclamo de alguma coisa. "Menina, pare de reclamar, já pensou se você vivesse na rua ou não tivesse o que comer?"

Sofro de depressão e as pessoas tampouco entendem: "doença mesmo é ter câncer, ficar paraplégico, isso é frescura, sai dessa".

Tenho um emprego que detesto e se reclamo dele: "você tá louca? Já pensou se fizesse parte dos 14 milhões de desempregados? Deveria levantar a mão pro céu que tem emprego!"

Tenho me sentido muito cansada com a minha rotina. Trabalho muito, passo muito tempo no trânsito, tenho filhos pra cuidar e quase fico sem forças pra ser mãe. Mas, há de mim se tentar ser egoista o suficiente pra apenas dizer: "preciso de um fim de semana de descanso sem filhos". Aí sim o mundo inteiro se volta contra mim. Claro, uma mãe nunca jamais pode se permitir sentir cansada de ser mãe. Esse é o maior crime de todos!

E assim os vilões de nosso dia a dia trabalham com nossa maior fraqueza: a nossa CULPA! 

A culpa nos prende, nos assombra, nos escraviza, nos domestica.

E assim vamos perdendo o direito de reclamar e vamos aceitando e vivendo essa pacividade odiosa em que nos encontramos.